sábado, 22 de outubro de 2011

3- Américo V., da vila de S.

Que vulto é aquele que se expande lentamente? É nada menos que Américo V., emérito cidadão da vila de S.
Américo tem cerca de sessenta e cinco anos, estatura baixa, cabeleira grisalha e farta. O seus olhos ensanguentados conservam ainda o fulgor suevo que habitou já aquelas paragens.
Américo claudica, tem uma bicicleta velha e a sua boca não alberga um único dente são. Bate na mulher todos os fins-de-semana, não porque isso lhe proporcione prazer mas por espírito de dever. Ela aceita os sopapos resignadamente.
Américo gosta do clube de futebol da terra e de música popular. Sabemo-lo porque assiste religiosamente todos os domingos aos jogos, acompanhado pela esposa que lhe transporta o velho rádio tailandês de onde escuta o relato de outros jogos em simultâneo. Sabemos também que todos os sábados, e por vezes também aos domingos, coloca a sua música favorita no terraço de sua casa em alto volume. Os vizinhos divertem-se.
Américo descobriu tardiamente que era insignificante e a música subiu de volume.
Não se sabe até quando durará Américo. Porém suspeita-se que quando sentir a morte por perto, a música tocará a um volume nunca antes ouvido e fará um chinfrim danado.

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