sábado, 21 de abril de 2012

11 - O Senhor Umberto

Dizem que é tão rigoroso, tão impecável no trato, tão implacável na crítica. Os que o conhecem bem asseveram que não existe estudo, texto em prosa ou em verso invulnerável à sua visão arguta. Na mais inexpugnável construção do intelecto, descobre fissuras, pontos fracos, claudicâncias.

A todos os que o procuram caracterizar ecoa, antes de todas as outras, a palavra etérea da pureza.

Habituou-se a desconfiar da mudança e das novas ideias. Suspeita ser tudo ditado pela loucura do comércio.

Entre as opiniões menos convencionais, encontrámos os que afirmam ser impossível sobreviver Umberto ao seu próprio código de conduta. Outros limitam-se a suspirar: «É difícil ser Umberto».

segunda-feira, 9 de abril de 2012

10 - No dia em que as trombetas soaram

No dia em que as trombetas soaram, tudo parecia correr de feição. As crianças e os anciãos adiantaram-se a todos os outros no entusiasmo pré-festivo, as mulheres engrinaldaram-se com a antecedência estritamente necessária à manutenção do penteado, os de sangue azul colocaram opulentas coroas esmaltadas nas capas de veludo vermelho cor-de-sangue, o rio correu, como sempre, para sul. Falou-se também de impostos, de desemprego, de carestia, de estrangeiros, e todos fumavam, e todos bebiam e todos eram felizes.
Apenas os pobres continuavam sem ilusões patrióticas e de todos, os loucos, veriam tudo às avessas, as máscaras, o sangue e a fanfarronice invadir o mundo dos vivos. «É tempo de aprender a nadar companheiros, aprender a nadar!», diriam.