Fui ensinada a acreditar. Afinal de contas, fui criada entre gente boa. Na minha infância era aquilo a que chamam uma wunderkind. As professoras apresentavam-me sempre como modelo quando havia inspecções na escola. Acontecia mesmo de não me deixarem responder às perguntas, pois sabiam de antemão que já era senhora daquelas lições. Esta foi a minha proto-história.
A minha adolescência foi como que um alvorecer helenístico. Dominava como ninguém praticamente todas as línguas do mundo civilizado. Ainda a primeira borbulha despontava no meu rosto e já as prelecções de Tales a Aristóteles não me eram desconhecidas.
Entretanto, o fim da adolescência abalou as minhas crenças e uma barbaridade desejos e sensações irrompeu pelas minhas fronteiras. Vesti-me de negro e deixei a pele empalidecer. A reclusão do meu quarto alternada com as saídas furtivas aos clubes góticos tornara-se um hábito, até que subitamente tudo me pareceu aborrecido e prepotente.
Entrei na Idade Moderna da minha vida e dois amores me deixaram como uma terra escombros, o primeiro, por ingenuidade, o segundo, por vingança de ódios antigos…
Disseram-me que a história se compunha com uma espécie de equilíbrio misterioso, algo profundamente misterioso mas certo.
Hoje vejo a minha figura reflectida no espelho, o cabelo começa a perder elasticidade, as carnes tornam-se flácidas cada dia que passa e dos olhos despontam já as primeiras rugas de expressão. Já assim, na idade do respeito, tratam-me como uma criança que necessita ser corrigida, a mim, desempregada, só, um pouco fútil. Fim da história.
terça-feira, 25 de outubro de 2011
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