Eu, Senhor, sou incapaz de sentir o amor. A minha
alma foi-se há muito, como o fumo das fábricas, como o trilhar furioso dos comboios.
Além disso, tenho muito medo do que o futuro me possa reservar. Tenho medo da dor,
na mesma proporção em que gosto de ter prazer. Esta linguagem básica e
primitiva é a única que me permito compreender. Por isso apaixonei-me por
aquela mulher - ela é desprovida de artificialismo. A sua linguagem é a do sexo
e da violência. Quando ela diz sexo, sei a certeza que ela quer dizer sexo;
quando bate, sei que pretendia bater. Já lhe pedi várias fotos para ter sempre
uma recordação sua, mas recebo, invariavelmente imagens electrónicas suas
denunciando nudez explícita. É uma questão de hábito.
Se a morte, aquela que é certa, me ceifar em tenra
idade, prometo desde já que fiz todos os possíveis para ler o livro de que
falam todos os bons escritores: o Livro do Mundo, ou seja, todas as regras. O
essencial mesmo é compreender as regras, e quem se esforce desde cedo nisto,
seguro é que vai muito longe, nesta como em todas as épocas.
Senhor, tenho medo do corpo. É uma coisa
interminável, de veios e nevoeiros, de mil probabilidades e volatilidades, mas
que coisa! Se me dissessem que o mal estava no corpo, de muito bom grado
acreditava, mas era preciso ir mais fundo e mais fundo e fundo, fundo…
Muito bom , um texto bem escrito com coesão, só acho que o titulo nao teve muito haver com o texto, posso está errada não sei , porem minha opinião é essa não vim para crticar apenas apreciar , pois como estou em anonimo posso falar que estou errada.
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