Vivia num apartamento de merda na periferia há vários anos, por falta de dinheiro, falta de trabalho, falta de vontade, falta de tudo, enfim…! Os meus colegas de redacção olhavam para mim com um ar de comiseração, de quem já nada se espera, como aquele aluno medíocre que falha todas as lições e nem os professores lhe perguntam o que quer que seja, apenas o deixam andar, por ali… Não por que fossem mais ricos, bem sucedidos ou bem mais qualquer coisa, mas porque é apenas esse o sentimento que o pobre pode despertar no pobre. As notícias sensacionalistas despertavam a avidez dos bravos. A concorrência dos jornais gratuitos (que publicam lixo e mais lixo) dera a estocada final na nossa redacção. Os patrocinadores, esses, começaram por retirar paulatinamente os seus fundos, os mais recentes primeiro, seguidos sem grande delonga pelos mais fieis anunciantes “– É a crise!”, diziam eles; crise que, no entanto, não os impedia de publicar num qualquer jornal gratuito para ler no metro em vinte, dez ou cinco minutos. “-É o tempo que vivemos!”, diz o Sr. Gedeão, director do jornal. As pessoas não estão para perder tempo a ler coisas maçudas! Querem coisas simples! Notícias que entrem pelos olhos adentro.” Notícias?! Não! Factos!” O Sr. Gedeão é um humanista. Melhor dizendo, é um neo-humanista, mas de um humanismo tão aberto, onde cabe qualquer manifestação, digamos… humana? A terrível inexistência de factos que se vem sentindo desde há uns anos para cá provocou uma súbita avidez por notícias. No início, dizia o Sr. Gedeão, a imprensa retirava as pessoas da ignorância e do obscurantismo. Todos devem saber ler! Nem que seja apenas para ler jornais. As pessoas devem estar informadas sobre o que se passa no mundo. Porque não haveria de suscitar tanto interesse a queda de um prédio em construção na esquina, como o tufão que assola as margens do pacífico? É a natureza em toda a sua força! O público avaliza com os seus votos, diga-se, compras, as tiragens dos jornais mórbidos. Pois sim, diria o Sr. Gedeão, pois é a natureza do ser humano conhecer a faceta mais sombria da sua própria existência. Quando os passatempos e as anedotas começaram a encher as páginas dos jornais, disse o Sr. Gedeão, é o lazer que enobrece a alma do Ser-Humano. Pois se a dignidade do mercado editorial se reflectir em vendas, tanto melhor! São duas cajadadas de um só coelho!
Por decisão do conselho editorial, o Sr. Gedeão inaugurou uma nova rubrica no nosso jornal: o obituário. Embora este ocupe já as páginas de vários jornais, o que o conselho editorial pretende é inovar. Assim algo ao estilo inglês, disse o Sr. Gedeão. Algo com pinta! O Conselho editorial estabeleceu contactos com a conservatória, que fornece os óbitos, sendo que, só no primeiro dia em que coloquei mãos à obra, recebi duas listas repletas de nomes. Na ausência de qualquer critério para a publicação do obituário, resolvi começar por escolher os nomes mais catitas, assim aqueles nomes estrangeiros esquisitos. Comecei por este:
“ João Francisco Ribeiro Kanh
Faleceu no dia 26/07/2010 o Sr. João Francisco Ribeiro Kahn. O finado, cuja cessação de funções vitais em tudo roçou a santidade, encerrou definitivamente as pálpebras para as fugazes imagens mundanas na sequência de uma doença prolongada. A coragem com que enfrentou a traiçoeira maleita a todos impressionou, sendo a sua luta contra a força aniquiladora da natureza um exemplo para quantos os que tiveram o privilégio de privar com o falecido. A solene cerimónia fúnebre realiza-se hoje, pelas catorze horas, no cemitério dos Prazeres, em Lisboa”.
Mal acabara de realizar esta primeira obra, apoderava-se de mim uma sensação de vazio, algo oco, um lapso de imaginação. Supus que ninguém lia todos os obituários, assumindo que estes apenas interessam ao circulo de familiares, amigos e conhecidos do falecido. Tanto melhor… Tanto melhor…
Tentei um segundo:
“ Carolina José da Costa Arromanches
A luz do dia viu hoje apartada dos seus raios uma das suas mais belas participações. O solo que abraça esta nossa pátria ficou mais pobre com o desaparecimento de uma das mais queridas filhas. A ilustre falecida, brutalmente privada das suas funções vitais na sequência de um terrível acidente de viação, em tudo pautou a sua conduta para melhor sorte. Deus chama para junto de si aqueles que mais ama, e dito isto o seu nome será sempre lembrado com saudade pelos seus amigos e familiares, que tão desoladamente anunciam a sua cerimónia fúnebre para hoje, às dezassete horas, no Cemitério dos Prazeres, Lisboa.
A minha sensação de cansaço agravou-se consideravelmente com o passar dos dias. As fontes abrasam, não conseguindo mesmo voltar a cabeça para onde quer que seja. Quando me tento levantar, uma terrível náusea martela o lopo frontal.
Entretanto, e talvez para bem da minha saúde, a minha carreira como escritor de obituários seria curta. Dois meses depois de iniciar funções nesta nova rubrica, o jornal encerrou definitivamente as portas, deixando para trás, não apenas todos os seus funcionários numa situação delicada do ponto de vista laboral, como também uma legião de credores. Decretado o processo de insolvência, o edifico onde funcionava a redacção viria a ser vendido em hasta pública por meia dúzia de tostões, poucos, - demasiado poucos - para a avidez dos credores insatisfeitos.
Chegara ao último acto da minha tragédia pessoal, de onde só o pathos ressaltaria, sem catharsis, sem catharsis… Se pudesse denominar esta fase da minha vida chamar-lhe-ia de “Fase da vertigem”. Pois sentia-me como das alturas de um precipício, ao colocar os meus dados biográficos num cv, na rigidez das datas e das palavras. Um medo animal percorria todo o meu corpo. Enviei o meu cv para tudo quanto era sítio, num assomo de loucura mitigada pela bondade, enviei os meus dados para as ONG’s e imaginava-me já, um derrotado material elevado ao mais alto nível espiritual. Imaginava os pretinhos apinhados à minha volta a puxar-me as calças e a camisa e chamar-me papá, titi e sussurrar-me: “o branco é bom! O branco é gentil! O branco é bonito!” Eram sonhos belos e todos eles bons, e mesmo a morte (que raramente ocorre nos sonhos) me parecia agradável numa estepe africana, com uma girafa como pano de fundo.
Encontraria novamente um emprego como redactor, mas desta feita de uma forma bem mais original. Fui colocado numa empresa onde tive de prestar testemunho das minhas qualidades, assim como jurar fidelidade ao patrão. Fosse pela minha inexperiência no sector empresarial, fosse pela minha natureza destemida (nesta fase estava muito desprendido), estranhava que cada vez que um dos subalternos pronunciava o “P” de patrão, um ligeiro tique nervoso se lhes desenhava na testa, tendo mesmo visto um deles franzir o olho num horror espasmódico quando me guiou pelos corredores assépticos do edifício. O meu Cicerone, depois de aberta a porta e anunciado em voz alta o meu nome, desapareceu novamente na primeira porta que encontrou. Quanto ao patrão, parecia um porreiro. Isto apenas veio acentuar a sensação de incompreensão que experimentei quando fui confrontado com o nervoso miudinho dos subalternos. Estava sossegado, nem as pernas me tremiam embora me assolasse uma terrível dúvida: qual o título pelo qual o devia tratar o bom do meu patrão: Dr., Engº, Arqº, - nunca um reles Sr. Em caso nenhum, um ordinário “você”. Pois um homem com um ar tão distinto nunca contentaria toda a sua responsabilidade com um simples Sr. Era alto, espadaúdo, pescoço delgado mas não magro, coroado por um belo crânio de ossatura germânica. Senti-me esmagado ao ter a honra de ser abordado por um Adónis daquela natureza, um Hércules dos tempos modernos, um príncipe da nova ordem. Quase de imediato me começou a tratar por “tu”, numa familiaridade que me provocou pele de galinha. Fez-me várias perguntas, sempre de forma surpreendentemente afável, às quais respondi com uma modéstia e sinceridade calculadas, como sempre foi do meu jeito. As minhas funções seriam nada menos do que escrever “menções honrosas”, “cartas de incentivo” e “cartazes alusivos” aos trabalhadores da empresa. Para os incentivar, rematou o meu Adónis.
Comecei por trabalhar no ranking da empresa.
Esta era, bem vistas as coisas, a minha primeira experiência no meio empresarial, encontrando-me a encabeçar um verdadeiro Ministério da Propaganda. Sabia que a minha anterior carreira na redacção não seria desprezada. Acredito que quando verdadeiramente nos esforçamos, lá encontramos a sociedade para nos recompensar com a sua mão invisível.
Por sugestão do meu patrão, o primeiro galardoado com o título de “Funcionário do Mês” foi o homem do talho. Eis como me desembaracei na tarefa:
“Joaquim, o homem do Talho
Quem não se habituou já ao tinir das facas?
A este nome pelas manhãs, tardes e noites?
Ele assegura a melhor qualidade de serviço, aliada a uma simpatia insuperável.
A firmeza inabalável com que destrinça ossos e cartilagens tem-nos deixado
a todos de boca aberta. Seja este um exemplo para todos nós – camaradas desta empresa, sempre a melhorar…”
Não me ocorria melhor final para esta pequena menção honrosa. Matutei por diversas vezes num final mas nada me ocorreu. Apenas melhorar, melhorar… Entretanto, e talvez por ter ficado agradado com o que lera, o nosso patrão encarregara-me de uma nova tarefa. Consistia em procurar, através de uma base de dados, todos os trabalhadores da nossa empresa e respectivos laços de parentesco com os restantes elementos da empresa. Mediante uma pesquisa por apelido, não foi muito difícil encontrar. Em nenhum momento foi feita qualquer referência à finalidade de tal projecto. A ideia desta procura intrigara-me ao ponto de remoer um bichinho dentro da cabeça que se foi tornando maior à medida que as horas passavam. Quando me encontrava já deitado e preparado para dormir, o bichinho era já um gigante. Ordens são ordens, e de momento é esta a informação de que disponho.
Confesso que andava numa inquietação enorme, pois não é todos os dias que se dá uma responsabilidade destas a alguém com a sua auto-estima nas ruas da amargura. O meu patrão confia em mim. O meu patrão é bom e eu serei seu servo para sempre. Juro! Juro que nunca trairei a sua confiança, e nem só o medo me poderia ter tornado tão subserviente. Aqui na empresa encontrei um lar. Encontrei pessoas que me sabem valorizar pelas minhas capacidade – todos sabem distinguir claramente o seu lugar no mundo, - e aquelas ideias nefelibatas que colocaram sonhos de mundos perfeitos nas cabeças dos homens, como os da igualdade, fraternidade e liberdade, encontram aqui o seu irrefutável NÃO. Estamos no domínio privado, e no domínio privado cada qual faz o que bem lhe apetece. Por tal sorte, um recém-admitido numa categoria profissional inferior à minha sabe qual a posição dos olhos quando se cruza comigo…
Foi-se o Verão e Chegou o triste Outono. O furor inicial que sentira quando entrei na empresa esvai-se como nas folhas em suave cadência das árvores. Quem diria que um dia voltarão a nascer…? O meu estado não diagnosticado de hipocondríaco agrava-se, e de um momento para outro as pessoas parecem que saem da terra e dão pulos de alegria como cabritos ensandecidos. Eu sei, eu sei… Eles são bons, e se por vezes os invejo ou os acho presunçosos, sei perfeitamente que tais sentimentos apenas são transmitidos pela minha própria presunção. Porque sei tudo isto e muito mais, a minha cabeça tem dormido bem sobre o travesseiro.
Mas as coisas aqui na empresa mudam de forma muito mais rápida do que o tempo. Toda a gente tem que jogar para a estatística, e essa mesma estatística é a fonte onde vou beber. O meu patrão tem andado nervoso… Pelo menos, noto que o seu ar jovial se vai esvanecendo, e os músculos tão elásticos que vira adornando a sua face na primeira vez vão-se tornando rijos. O seu olhar decidido vai-se tornando vago, os gestos cheios de vigor flácidos e vazios. Perguntou-me pela lista há uns dias atrás. Disse-lhe que estava pronta. Respondeu-me - -“Óptimo! Óptimo”, mas o seu olhar desalentado permanecia”. Então e o resto como vai? – Perguntou-me, bem… bem… Óptimo! Óptimo! Coitado do meu patrão. Não aguentarei o peso da vergonha se um dia o vier a desiludir. È daquelas pessoas que merece toda a confiança do mundo. É para isto que existimos afinal.
Os meus comparsas esfriaram repentinamente as suas relações comigo. Não percebo porquê, se há bem pouco tempo se mostravam tão solícitos. Consegui apanhar alguns fragmentos de conversas em que se dizia “lista”, “lista”, “lista”, e penso, penso, penso. O meu colega de repartição, o Semedo, mostra também uma certa frieza no seu trato comigo. Penso… Penso… Ahhh! O mesmo medo animal de há uns meses atrás invade-me, congela-me os ossos e impede-me a concentração no que quer que seja.
Continuei a coligir alguns dos textos que havia escrito há umas semanas. A sua publicação faria parte de uma cerimónia de entrega de prémios que ocorreria na semana seguinte. Seriam seleccionados os melhores trabalhadores da empresa para receber os respectivos prémios. Li em voz alta as condecorações para ter a certeza de como soavam em público. Este dia traz-nos algo de especial, …, em boa verdade, …, os nossos mais queridos préstimos enquanto funcionários…., a satisfação e melhoria permanente, …, o prémio, …, a melhor, …, empresa, …, lista, …, medo, …, medo, …, medo…
No dia seguinte, por entre o meu olhar desconfiado em várias direcções, corri para o pé do patrão logo que tive oportunidade para isso. O seu ar afável (uma afabilidade mais suspeita do que nunca) colocou-me num grande estado nervoso. Não tive alternativa senão de me prostrar a seus pés e dizer num arrebatamento piedoso: Juro! Juro! Juro! Que nunca farei mais nada de mal…, sabe, …, a lista, a lista! Todos os que pareciam alheados dos acontecimentos se levantaram, mostrando-se ainda mais solícitos do que os que prestavam maior atenção ao desenrolar da situação. O patrão, visivelmente embaraçado com o que se passava, chamou-me à parte ao gabinete. –“ Que se passa consigo, Artur?” “-Você está bem?”. Sim, estou, tenho apenas andado um pouco cansado… Nada de especial… “-Sabe o que você precisa Artur?”, e quando assim disse o meu crânio caído levantou-se como que esgotando a minha última reserva de vigor, à semelhança do que deve sentir o condenado à morte quando se lhe diz que afinal existe uma oportunidade de viver. Equilíbrio. Equilíbrio? Sim equilíbrio! O patrão estendeu a sua mão direita bem à frente da minha cara como os cinco dedos afastados. Ia nomeando, a vida constitui-se pelos seguintes elementos: Amor, Dinheiro, Saúde, Amigos, Família. Tal como Hipócrates definia o são equilíbrio pelo nivelamento dos bons e maus humores que escorrem nos fluidos humanos, a felicidade encontra-se no equilíbrio destes cinco elementos. De seguida, pegou numa caneta e num papel e desenhou:
Amor Dinheiro
Vida
Família
Saúde Amigos
Continuou, percebe Artur, se conseguir o equilíbrio perfeito entre estes elementos tudo lhe será garantido. Aconselho-o ainda a comprar o GPS da vida. GPS da vida? Sim, por intermédio de um complexo sistema de compatibilidades entre conceitos, consegue-lhe fornecer, numa base de optimização e racionalização, as melhores opções para cada um destes aspectos . Sirva de exemplo: Algum problema que tenha com a sua família: basta inserir as premissas do problema que o GPS fornece-lhe a resposta mais adequada com base num cálculo de probabilidades.
Cheguei a casa, e sentia-me de facto mais leve depois desta conversa com o chefe. Voltei a pôr mãos ao trabalho e escrever os textos que já há algum tempo se encontravam suspensos por falta de imaginação, o tradicional problema com os remates de textos. Escrevo, Escrevo e não encontro o final. Já nada dura até à morte… reticências, parêntesis, sem finais felizes…, …, lista…, medo, …, medo….
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
António foi peremptório - IV
Houve um dia em que toda a gente se fartou do rei. Nem se percebe porque o vinham aguentando desde há tanto tempo. As pessoas são pacientes aqui no reino de Nestum, e a vida foi construída para os fortes. Durante algum tempo achou-se alguma piada aos fracos e doentes. As senhoras deitavam-lhes as mãos pelas costas e cobriam-lhes o regaço, com pena. Pelo menos tinham essa função, a de alguém ter pena deles. Um dia fartaram-se deles e enviaram-nos para o campo pastar. Ainda antes disso, inventavam toda uma série de expedientes manhosos para se ver livres deles. Trocavam o nome das coisas: “-Vamos enviar os doentinhos para o campo, porque lá ó ar é mais puro”, diziam. Aproveitavam-se os que ainda sabiam jogar à bola, onde residiu a minha salvação. Era daqueles que chutava com os dois pés, de peito, cabeça, etc. Enviaram-me para outro sítio onde podia ser compreendido pelas minhas qualidades futebolísticas. Por mim, tudo bem… Pelo menos já não tinha que gramar com velhotas a espingardar, ou servir de reposteiro nas cerimónias. Por vezes eram simpáticas, as velhotas. Diziam, “-Olha que moço bonito e alto!” Passavam-me a mão no pêlo e nos tomates e eu ficava contente, embora ainda não tivesse ainda chegado àquela idade quando só queremos que nos passem a mão no pêlo e nos tomates. De resto, era também um tempo em que era encornado, e sabia-o bem e por quem! À semelhança da minha pessoa, todos eram encornados e não pareciam muito afectados por isso, afinal, já não estamos em tempo de soberanias. De hoje em diante, todos devem estar preparados para ser cornos, porque os cornos, mesmo sendo cornos (e ninguém o pode negar) passam por um belo chapéu se forem bem enfeitados. Ao mesmo tempo via gente que se dizia realista e lúcida, que me chamava constantemente a atenção para a minha cornadura e diziam: “- Porque não fazes nada, meu? Vai ter com ela parte-lhe a cara! As contas que tens a acertar não são com o gajo que a anda a comer, porque esse faz o trabalho dele, e se a como é porque ela deixa”. Dizia que sim, que sim, que sim. Davas duas voltas ao bilhar grande e voltava à mesma indiferença. Soavam-me as palavras irónicas de Dostoievsky: “A traição é um acto de protesto da feminilidade oprimida! Eu, marido responsável, não só devo aceitar esse protesto como, se for preciso, arranjar um amante à minha mulher. Não há nada como os russos para abstracções.
Até que chegou o dia em que conheci Patrícia, lá no campo. Tinha os seus trinta e poucos e um porte de dama romana, terrível e sensual. Era daquelas pessoas cheias de vitalidade, mas de uma vitalidade maldosa. A maldade e o apetite sexual pareciam ser o seu único móvel, o seu Demiurgo e a sua razão de ser. Cair nas mãos de Patrícia era desastroso por duas razões: se caíssemos nas suas más graças, seria capaz de nos arrasar pelo motivo mais fútil. Se o contexto de proporcionasse (e se tivesse garantias quanto à sua impunidade), seria capaz de torturar e matar sem o mínimo remorso. A sua lógica era dominar e o seu prazer máximo o poder absoluto. A segunda razão para a temermos era a sua pujança sexual. Percorreria também todo o alfabeto latino conosco: sodomizatio, fellacio, cunnilinguis, e talvez nos amasse por isso, situação que é sempre de temer.
Até que chegou o dia em que conheci Patrícia, lá no campo. Tinha os seus trinta e poucos e um porte de dama romana, terrível e sensual. Era daquelas pessoas cheias de vitalidade, mas de uma vitalidade maldosa. A maldade e o apetite sexual pareciam ser o seu único móvel, o seu Demiurgo e a sua razão de ser. Cair nas mãos de Patrícia era desastroso por duas razões: se caíssemos nas suas más graças, seria capaz de nos arrasar pelo motivo mais fútil. Se o contexto de proporcionasse (e se tivesse garantias quanto à sua impunidade), seria capaz de torturar e matar sem o mínimo remorso. A sua lógica era dominar e o seu prazer máximo o poder absoluto. A segunda razão para a temermos era a sua pujança sexual. Percorreria também todo o alfabeto latino conosco: sodomizatio, fellacio, cunnilinguis, e talvez nos amasse por isso, situação que é sempre de temer.
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